Queda de investimento
freia venda de máquinas
Por Eduardo Laguna e Ana Fernandes
Após mostrar evolução quase constante nos últimos oito anos -
interrompida apenas em 2009 pela crise financeira, mas compensada por
sucessivos recordes nos dois anos seguintes -, o consumo de máquinas e
equipamentos empregados na construção civil e grandes projetos de
infraestrutura travou em 2012.
Dados da Abimaq, a entidade que abriga os fabricantes de bens
de capital instalados no Brasil, mostram quedas expressivas em uma série de
equipamentos utilizados na primeira fase das obras - ou seja, todos aqueles
trabalhos destinados a preparar o terreno para o início das edificações.
Quando comparado ao mesmo período de 2011, o desempenho do
primeiro trimestre revela queda de 21% nas vendas de escavadeiras hidráulicas e
de 36,1% nos volumes de motoniveladoras. No caso das retroescavadeiras -
equipamento mais utilizado na fase de terraplenagem -, a queda foi menos
significativa, de apenas 1,1% em relação a um ano antes.
Na soma dos principais equipamentos - que ainda inclui
tratores de esteira, carregadeiras, caminhões fora-de-estrada e rolos
compactadores -, a contração é da ordem de 15,4%.
A letargia dos projetos públicos - que levou o governo
federal a colocar recentemente um crédito de R$ 20 bilhões à disposição dos
Estados para obras de infraestrutura -, combinada à retração dos investimentos
no país - como revelou a decomposição do Produto Interno Bruto (PIB) do
primeiro trimestre - ajuda a explicar a inflexão da trajetória positiva dos
últimos anos.
Também há uma relação com o estágio de projetos que
contrataram grande volume de maquinário nos últimos anos. Boa parte das obras
dos estádios que vão receber a Copa do Mundo de 2014, por exemplo, começa a
sair da fase de movimentação de terra - que utiliza as máquinas citadas acima -
para um estágio de deslocamento de materiais, no qual começam a ser utilizados
outros tipos de equipamentos, como gruas e as plataformas elevatórias.
Por outro lado, os empreendimentos ligados a acessos viários,
mobilidade urbana e aeroportos, não avançam como a própria Fifa - organizadora
do Mundial de Futebol - esperava.
"Tem muito investimento a ser feito, mas eles acontecem
a uma velocidade aquém do imaginado", resume Clóvis Salioni Júnior, presidente
da Abef, a entidade das empresas de engenharia de fundações - setor que
movimenta aproximadamente R$ 350 milhões por ano em máquinas perfuratrizes e
bate-estacas.
A Brasil Máquinas de Construção (BMC) - que distribui marcas
como Hyundai, Zoomlion e XCMG - relata um início de ano ruim em termos de
faturamento. De acordo com o presidente da empresa, Felipe Cavalieri, a
carteira de pedidos ainda mostra algum crescimento, mas a demora na execução
dos contratos vem derrubando a receita: a queda até agora é de 15%.
Cavalieri aponta que o principal entrave é a lentidão na
execução das ordens de serviço por governos (federal, estaduais e municipais),
devido, principalmente, a dificuldades relacionadas a burocracia ou
licenciamento ambiental das obras.
A maioria dos clientes da BMC - cerca de 80% - atende a obras
públicas. O executivo acrescenta que a espera pelo faturamento de contratos
também pesa sobre os custos da empresa: "Meu problema é que eu tenho de
ficar carregando máquina no estoque e isso tem um preço."
As perspectivas para o longo prazo permanecem positivas, mas
o desempenho registrado nos primeiros meses do ano indica que o setor terá
dificuldade para cumprir com as previsões de crescimento traçadas para 2012.
Andrea Park, presidente da câmara de máquinas rodoviárias da
Abimaq, diz que a tendência para o consumo de equipamentos para construção está
mais para um aumento de 5% do que para os 10% previstos no fim do ano passado.
O balanço da entidade mostra que, a despeito da menor
demanda, a produção dessas máquinas cresceu 4,5% no primeiro trimestre,
indicando que havia uma perspectiva positiva dos fabricantes no início do ano.
"Todo mundo se preparou muito para uma expectativa que não
aconteceu", avalia Andrea.
Por outro lado, a melhora da demanda nos mercados
internacionais permitiu ao setor compensar parcialmente a queda das vendas
domésticas com um aumento significativo das exportações. Houve, por exemplo,
expansão de 42,4% nos embarques ao exterior de retroescavadeiras e crescimento
de 18% nas exportações de motoniveladoras, conforme os dados do trimestre.
A Sobratema - que coleta informações sobre esse mercado -
traça um aumento de 5% nas vendas de maquinário de construção, mas o
vice-presidente da entidade, Mário Humberto Marques, adianta que esse número só
será atingido se o segundo semestre for muito bom e o PIB brasileiro conseguir
crescer 3% no ano - uma possibilidade pouco considerada pelo mercado
financeiro, que prevê crescimento de 2,3% para 2012.
Fonte: Valor Econômico
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