Redução do peso dos
impostos sobre os mais pobres depende de reforma tributária, diz assessor do
Inesc
Para ele, a disparidade só será eliminada quando a cobrança
de impostos se concentrarem na tributação direta, na qual quem ganha mais paga
mais.
Wellton Máximo
A desoneração sobre a cesta básica alivia, mas não resolve a
desigualdade do sistema tributário brasileiro, que proporcionalmente pune os
mais pobres com tributos indiretos, conforme avaliação de Lucídio Bicalho,
assessor do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Para ele, a
disparidade só será eliminada quando a cobrança de impostos se concentrarem na
tributação direta, na qual quem ganha mais paga mais.
Segundo Bicalho, a
melhor maneira de impulsionar os impostos diretos consiste em aumentar a carga
tributária sobre a renda e o patrimônio. Em contrapartida, o governo deveria
diminuir os impostos sobre os salários – que atingem os trabalhadores, mas
não afetam os empresários – e sobre o consumo. Para ele, essa é a melhor forma
de redistribuir o peso dos tributos sem prejudicar o governo, que depende dos
impostos para fornecer serviços públicos.
“O mais importante não é simplesmente diminuir a tributação,
até porque são os impostos que financiam a previdência, a educação e a saúde. O ideal é uma reforma tributária que
amplie o peso dos impostos diretos e reduza a fatia dos indiretos”,
ressalta Bicalho. Cobrados sobre as mercadorias, os impostos indiretos punem
mais as famílias de menor renda porque incidem sobre o preço final dos produtos,
sem distinguir a renda do consumidor. Dessa forma, os tributos indiretos são
proporcionalmente mais caros para a população com menos recursos.
De acordo com os dados mais recentes da Receita Federal,
33,56% de tudo o que o país produziu em 2010 foi revertido para o governo na
forma de tributos. Desse total, 7,36% corresponderam à tributação sobre a renda
e as propriedades e 27,08% representaram a tributação sobre os salários e o
consumo. Nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), grupo que reúne nações desenvolvidas, essa média é,
respectivamente, 14,9% e 20,2%.
Para Bicalho, a
desoneração da cesta básica representa apenas uma solução parcial para as
distorções do sistema tributário. “No Brasil, ocorre uma inversão em
relação aos países desenvolvidos. A
carga tributária sobre o consumo é muito maior, e os tributos diretos, que são
mais justos, têm baixa incidência proporcionalmente ao que deveriam”, critica.
O assessor do Inesc defende a extensão da desoneração para
outros tipos de mercadorias essenciais, como o vestuário. Segundo ele, os
impostos menores seriam compensados com medidas que forcem a população de maior
renda a pagar mais para o governo. Ele
defende a criação do Imposto sobre Grandes Fortunas, aprovado na Constituição
de 1988, mas
que não foi regulamentado até hoje.
Para a reforma tributária ser completa, no entanto, Bicalho
observa que é necessário o envolvimento dos estados e dos municípios nas
discussões. Isso porque diversos tributos que o cidadão paga não são de
competência do governo federal.
“Assim como a União precisa desonerar os impostos federais
sobre o consumo, os estados precisam diminuir o ICMS [Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços] e,
em contrapartida, aumentar o IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores]. O mesmo deveria ser feito pelas prefeituras, que poderiam
instituir o IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] progressivo”,
acrescenta.
Fonte: Agência Brasil
As matérias aqui apresentadas são retiradas da fonte acima
citada, cabendo à ela o crédito pela mesma.
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