Dilma faz opção pela
desoneração tributária
O pacote de
desonerações do PIS e da Cofins que o governo prepara, e que será divulgado
brevemente, é muito forte. A pedido dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e
do Planejamento, Miriam Belchior, o relator da proposta orçamentária, senador
Romero Jucá (PMDB-RR), reduziu a previsão de receita desses dois tributos,
feita inicialmente pelo próprio governo, em R$ 18,3 bilhões - esse é o custo
fiscal do pacote. Para se ter uma ideia do que isso significa, toda a
desoneração da folha de pagamentos de 42 setores da economia custará R$ 16
bilhões aos cofres públicos neste ano, segundo previsão que consta do
Orçamento.
O próprio
governo parece ter intensificado, ao longo dos últimos meses, o seu entusiasmo
com as desonerações tributárias. A proposta orçamentária inicial, encaminhada
em agosto do ano passado, não previa o pacote de desoneração do PIS e da
Cofins. Ele surgiu em dezembro, quando os ministros Mantega e Belchior enviaram
pedido ao Congresso para que fosse feita uma redução de R$ 9,8 bilhões na estimativa
de receita dos dois tributos. O governo disse que os setores da economia a
serem beneficiados ainda seriam definidos.
Nesta
semana, Belchior e Mantega pediram nova redução da estimativa de receita do
PIS-Cofins, agora de R$ 8,5 bilhões, elevando o valor da renúncia de receita
desses dois tributos, com os benefícios tributários que serão concedidos, para
R$ 18,3 bilhões. O novo pedido dos dois ministros revelou o tamanho do pacote
de desoneração do PIS-Cofins em gestação dentro do governo.
Pacote do PIS-Cofins
custará R$ 18,3 bilhões neste ano
Ainda se
sabe muito pouco do pacote de desonerações do PIS-Cofins. É certo que o governo
pretende isentar os produtos da cesta básica desses dois tributos. É
considerado muito provável que o governo isente também o setor de etanol.
Ontem, a jornalista Claudia Safatle, do Valor, informou que o governo pretende
reduzir ou eliminar a incidência do PIS-Cofins sobre alguns preços
administrados, entre eles o óleo diesel, com o objetivo de conter a inflação.
A desoneração
prevista do PIS-Cofins não está relacionada com a reforma desses dois tributos,
em estudo na Secretaria da Receita Federal desde 2011. Fonte da área econômica
informa que o governo poderá até mesmo encaminhar o projeto de lei com a
simplificação do PIS-Cofins ao Congresso neste ano. Mas as novas regras só
entrariam em vigor, na melhor hipótese, em 2014. Assim, a eventual perda de
receita com essa reforma só poderia constar da proposta orçamentária do próximo
ano.
O pacote do
PIS-Cofins parece conter benefícios tributários horizontais (ou seja, para
todos), como é o caso da cesta básica, e verticais, beneficiando setores
específicos. A preocupação do governo está relacionada com a diminuição dos
atuais custos de produção e da carga tributária, reconhecidamente elevada no
Brasil, em comparação com a qualidade dos serviços públicos que ela financia.
No ano
passado, houve um acalorado debate dentro do governo sobre a intensidade com
que deveriam ser feitas as desonerações tributárias. A ala que defendia uma
redução da meta de superávit primário neste ano para ampliar o espaço fiscal
das desonerações terminou vencendo. A presidente Dilma Rousseff foi convencida
dessa estratégia, cujo objetivo é reduzir os custos de produção e estimular os
investimentos. A adesão de Dilma ficou claro em sua mensagem ao Congresso
Nacional, de fevereiro passado.
Nela, Dilma
disse que pretende avançar mais nas desonerações, "em parceria com o
Congresso Nacional e com os Estados e municípios", aprovando "novas e
importantes medidas para que o Brasil tenha uma política tributária mais justa
para os cidadãos e mais favorável ao investimento".
A opção pelo
caminho da desoneração tributária está clara na proposta orçamentária deste
ano. Um levantamento feito pelo Tesouro Nacional, e encaminhado ao Congresso em
anexo ao relatório de avaliação do cumprimento das metas fiscais de 2012,
estima em R$ 34,4 bilhões a perda de receita neste ano com as medidas de
desonerações aprovadas no ano passado.
Nesse valor
não foi incluído o custo da substituição da contribuição previdenciária
patronal sobre a folha de salários por uma contribuição sobre o faturamento. Na
proposta orçamentária deste ano, o governo estimou que a perda de receita com a
desoneração da folha poderá chegar a R$ 16 bilhões.
Além disso,
é preciso incluir o custo do pacote do PIS-Pasep, de R$ 18,3 bilhões, e a perda
de receita de R$ 2 bilhões com o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ),
decorrente do programa cultura do trabalhador, disciplinado pela Lei 12.761, e
do programa de participação dos trabalhadores no lucro das empresas, definido
pela Medida Provisória 597/2012. O total das desonerações neste ano atinge,
portanto, R$ 70,7 bilhões.
A previsão
para o custo fiscal das desonerações precisa, no entanto, ser relativizada,
pois ela depende dos critérios adotados no cálculo, entre eles a previsão de
crescimento da economia para o período.
O importante
é observar que a opção do governo pela desoneração tributária tem impacto
direto na meta de superávit primário deste ano. Dito de outra forma: o governo
decidiu usar um pedaço da meta fiscal para fazer as desonerações. Isso será
possível, porque a LDO será alterada para que o desconto da meta seja elevado
dos atuais R$ 45,2 bilhões para R$ 65,2 bilhões. Assim, por conta das desonerações,
o governo poderá reduzir o superávit primário em até R$ 20 bilhões.
Outra
redução do superávit primário será feita por conta de aumento de várias
despesas. A proposta orçamentária prevê desconto da meta de R$ 25 bilhões para
acomodar a elevação de gastos de investimento e custeio. Assim, com redução de
R$ 45 bilhões, o superávit do governo central (Tesouro, BC e Previdência)
cairia de R$ 108,1 bilhões para R$ 63,1 bilhões, ou algo como 1,3% do PIB,
contra uma meta formal de 2,15% do PIB.
Os Estados e
municípios, cuja meta formal é de 0,95% do PIB, poderiam aumentar o resultado
dos 0,49% do PIB no ano passado para 0,6% do PIB neste ano. Nesse cenário, o
superávit primário de todo o setor público cairia de 3,1% do PIB (meta formal
da LDO) para 1,9% do PIB.
Ribamar
Oliveira
Fonte: Valor
Econômico
Associação
Paulista de Estudos Tributários, 7/3/2013
11:34:16
Nenhum comentário:
Postar um comentário