IFRS: contadores ficam com a parte menos nobre do mercado
Publicado em
30/03/2015, às 11h44
Por Luciano
Feltrin
Quando o tema é o suposto protagonismo que teria
sido assumido pelos contadores dentro das organizações, Marta Pelúcio,
professora do MBA de IFRS da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,
Atuariais e Financeiras), é bem menos otimista que seus pares.
Nesta entrevista
exclusiva à Revista Dedução, ela avalia que a
aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade, a partir de 2010, trouxe
maior subjetividade à análise dos negócios e ampliou o trabalho dos
contabilistas. No entanto, pondera também que a maior parte dos profissionais
continua ocupando o mesmo espaço de sempre: dando conta da burocracia cotidiana
e tocando a rotina operacional das companhias. “Na maioria das vezes, o
contador é quase um funcionário público. Recebe das empresas para trabalhar
para o governo”, ironiza Marta Pelúcio.
A chegada da Lei
11.638, que trouxe as Normas Internacionais de Contabilidade ao Brasil,
valorizou o trabalho dos contadores?
O IFRS ampliou o grau de subjetividade na
análise dos negócios e vem fazendo com que os contadores precisem ter uma postura mais ativa
dentro das organizações e perante seus clientes.
Mas percebo que os contabilistas continuam
ficando com a parte menos nobre do trabalho.
Como assim?
Quando o trabalho vai para as questões mais
complexas, como, por exemplo, preparar um laudo contábil que será utilizado
numa combinação de negócios ou uma fusão, quase sempre é executado por um
advogado especializado em negócios. Tanto que já se comenta no mercado que há
faculdades querendo criar uma disciplina chamada Direito da Contabilidade.
Há advogados buscando
cursos de Contabilidade para atuar na área?
Sim. Com freqüência cada vez maior. Como eles
conseguem eliminar várias disciplinas (matérias que são comuns aos cursos de
Direito e Contabilidade), muitos procuram cursos e estudam dois anos para
depois poder trabalhar
também como contadores e assinar laudos.
Então os
contabilistas estão perdendo espaço dentro de sua própria área?
Sim.
Os contadores hoje ficam com os piores clientes, que são aqueles que demandam o
trabalho do dia a dia e pagam a pior remuneração. Já os advogados são contratados para fazer laudos e
trabalhos específicos, que pagam bem melhor.
Hoje, em muitas organizações, os contadores são
quase funcionários públicos. Recebem dos clientes para trabalhar para o
governo.
É possível mudar
esse quadro?
Não vejo mudanças no horizonte. E faço minha defesa
aos contadores, pois eles não têm tempo de se preocupar com a parte mais nobre
e valorizada do trabalho.
A burocracia
cotidiana e o emaranhado de normas tributárias contribuem para o agravamento
dessa situação?
Claro. São leis, normas e instruções normativas
complexas. Como há muito trabalho e demandas diárias envolvendo esse tema, os
escritórios de Contabilidade acabam tendo mais especialistas em questões
tributárias do que em Contabilidade propriamente dita.
Isso porque o risco das empresas passa pelo
trabalho dos contadores. Como não tivemos uma reforma tributária, eles acabam
tendo a mesma responsabilidade do dono no sentido de evitar que a companhia
tenha contingências tributárias. É algo muito sensível nas organizações.
Em geral, o que
procuram os alunos quando se matriculam num MBA em IFRS?
Esse estudante é um profissional que tem como
ambição fazer carreira numa multinacional, trabalhar em grandes empresas, na
área de controladoria, por exemplo. Uma minoria trabalha hoje e pretende
trabalhar no futuro em escritórios de Contabilidade.
FONTE: REVISTA DEDUÇÃO
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