Uma tragédia tributária –
como o Simples ficou Complicado
Autor: Ivan Primo BornesFonte: Estadão
PMELink: http://blogs.pme.estadao.com.br/blog-do-empreendedor/uma-tragedia-tributaria-%E2%80%93-como-o-simples-ficou-complicado/
Depois de muitas modificações, idas,
vindas e voltas, na última sexta-feira foi publicada a lei complementar que
muda as regras do sistema tributário chamado Simples Nacional. Foram meses de
expectativa para essas mudanças, e o resultado foi “simplesmente”…
decepcionante.
Já se passaram 10 anos desde o
Simples foi criado e, como acontece com muitos assuntos que ficam defasados, o
resultado de todo esse trabalho de nossos representantes legislativos ficou
abaixo da expectativa. Fica aquela impressão de que a classe política
desperdiçou mais uma oportunidade de fazer um bom trabalho. Ou pior: atirou
fogo amigo.
Tudo começou com a melhor das
intenções na Lei Complementar 123 de 2006, que instituiu o Estatuto Nacional da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e era louvável: simplificar a vida
dos micro e pequenos empreendedores, através da unificação de tributos
municipais, estaduais e federais, incluir mais contribuintes no sistema e
combater a sonegação.
Mas as atuais mudanças – ou
atualizações, como alguns especialistas estão chamando – não apenas ficaram
longe das demandas dos empreendedores, como embutiram algumas “surpresas” desagradáveis.
Novo limite a partir de 2018
Fazendo um breve histórico, quando
começou o Simples em 2006 o faturamento bruto máximo para a empresa ser
enquadrada no regime tributário era 2,4 milhões. Em 2012 houve uma atualização
nos valores e passaram a 3,6 milhões, vigentes hoje. E a partir de 2018 – na
nova lei – o limite de faturamento bruto será de 4,8 milhões por ano.
O problema: numa conta
simples, os aumentos do limite de faturamento mal cobrem a inflação acumulada
nestes anos. Ou seja, não houve aumento real do limite, houve perda, quando
descontada a inflação. Então, se por acaso a empresa está prosperando, e
consegue faturar mais do que o limite, vai perder o Simples e tem que optar por
outros regimes tributários que são mais caros e complicados. Muitas empresas
optam por não crescer ou – o pior do pior para o país – sonegar.
Não foi por falta de aviso da
sociedade e dos pequenos empreendedores: em 2015 foi entregue o documento do
Brasil + Empreendedor aos governantes, sugerindo a evolução gradual tributária
até 30 milhões, estimulando a evolução dos micro e pequenos empreendedores para
serem médias empresas. Pelo visto, ninguém lá em Brasília deu importância a
esse documento.
Novo sistema de cálculo
Hoje, para saber a alíquota de
tributos, é fácil. Basta googlear e conferir a tabela de
faturamento acumulado no ano e o percentual de contribuição. Na medida em que a
empresa fatura mais, a tributação também vai aumentando de forma gradual. Já na
versão de 2018, voltam os cálculos complicados, com alíquotas de aumento ou
desconto variáveis de acordo com o faturamento do ano anterior.
O problema: era pra ser
“simples” mas agora tem que ficar com uma calculadora na mão todo mês. O
contador, já sobrecarregado, vai precisar dedicar mais tempo a fazer contas, em
vez de cuidar de assuntos próprios da profissão, como inventários e balancetes,
que demonstram a saúde financeira da empresa. Nossos políticos poderiam de fato
ter pensado em fazer vale o nome “simples”.
Tributos
Na tabela atual do Simples Nacional,
a tributação na faixa máxima, de R$ 3,6 milhões, é de 11,61%. Na nova tabela,
que entra em vigor em 2018, a empresa que estiver na faixa de faturamento
máximo, de R$ 4,8 milhões, vai ter que tributar em 19%. Sim, de-ze-nove
porcento.
O problema: considerando
o que falamos acima, de que os aumentos dos limites já estão defasados com a
inflação, somado ao aumento de impostos de 11,61 a 19% eu realmente não entendo
como qualquer negócio será sustentável sem fazer uma das 3 coisas:
1. Aumentar os preços e repassar tudo
ao contribuinte
2. Sonegar
3. Fechar as portas
Fonte: CNT - Contadores
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