Entidades
profissionais contestam Contador Amigo, que estimula empresários a cumprir
obrigações sozinhos.
Fundador diz que
site não oferece serviço de contabilidade, apenas ajuda empresários a
cumprirem a lei
FILIPE OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com a promessa de levar os microempresários a realizar a contabilidade da
empresa sozinhos, o site Contador
Amigo se tornou alvo de quatro ações, promovidas por entidades
representativas da classe contábil.
O site, que usa slogan adaptado do
movimento punk "Faça você mesmo
sua contabilidade", oferece informações para o cumprimento de
obrigações fiscais para assinantes, que pagam R$ 50 por mês.
Porém, argumentam os contadores, o
serviço oferecido não pode ser chamado de contabilidade. Esta envolveria
procedimentos técnicos mais complexos como elaboração de balanços
patrimoniais e balancetes.
Os profissionais também reclamam da
utilização da palavra "contador" no nome da página, que não foi
criada por profissional da área.
PERCEPÇÃO
O Contador Amigo
foi criado em 2011 por Vitor Maradei, 49. Com formação em jornalismo, ele é
proprietário da agência digital Vad, que desenvolve páginas na internet para
empresas.
Segundo Maradei, o site é o
primeiro projeto de start-up criado pela Vad, a partir de necessidade que
encontrou no mercado.
Ele diz que a idéia surgiu de sua
percepção de que muitos empresários não eram bem atendidos por seus
contadores. Por esse motivo, pensou em estimulá-los a cumprir suas obrigações
por conta própria.
Maradei afirma que as informações
necessárias para o cumprimento da legislação por microempresas (com
faturamento anual de até R$ 240 mil por ano) estão presentes no site.
DEFESA
Por outro lado, ele diz que não
exerce a profissão de contador de maneira irregular, pois o site não faz a
contabilidade das empresas, mas ajuda os empresários a compreender a lei:
"Tudo o que fiz foi juntar
informações presentes na internet em um único lugar. Queremos tentar dobrar a
burocracia."
Para preparar o conteúdo, Maradei
diz ter contado com a participação de um advogado tributarista e dois
contadores. Profissionais prestam assessoria ao site quando necessário,
afirma.
Atualmente, o Contador Amigo tem
1.027 usuários, sendo que, desse total, 350 são assinantes, enquanto os
demais estão em período de teste do serviço.
QUESTIONAMENTOS
As ações contra o site tiveram
início em junho de 2012, quando o Conselho Regional de Contabilidade de São
Paulo (CRC-SP) entrou com uma ação na justiça federal argumentando que havia
exercício ilegal da profissão.
Na ocasião, uma ação cautelar da
entidade pediu a remoção imediata do site do ar. Negada, o processo será
julgado no Tribunal Regional Federal da terceira região.
Seguindo o CRC, as entidades de
categoria Sescon-SP, Sindcont-SP e Fecontesp também entraram com novas ações,
desta vez no Tribunal de Justiça de São Paulo.
De acordo com o advogado de
Maradei, Dárcio dos Santos, dessas novas ações, a empresa já foi intimada em
duas. Ele afirma ter conseguido que uma delas fosse anexada à primeira,
iniciada pelo CRC.
Entidades dizem
que site induz à conclusão errada
Para entidades da
categoria, o Contador Amigo utiliza indevidamente a palavra contador.
Para Sérgio Approbato Machado Jr,
presidente do Sescon-SP, sindicato que reúne escritórios de contabilidade, o
site induz erroneamente o empresário a pensar que contabilidade seja algo
simples.
Ele diz que o site apenas junta
informações que estão disponíveis ao público junto com frases de efeito:
"Ele não faz nada que o empresário não possa conseguir no Google",
diz.
Machado diz que a contabilidade vai
além do que é oferecido pelo site. Cita o fato de a página oferecer recursos
para preenchimento de livro-caixa.
Enquanto esse procedimento pode ser
feito por qualquer pessoa, diz, o contador é o profissional capacitado para a
elaboração de balanços.
Para o advogado Ricardo Border, que
representa o Sindcont-SP e a Fecontesp, as ações surgiram por queixas de
profissionais incomodados com a página e com o fato de o criador do site não
ser contador. Em nota, o Conselho Regional de Contabilidade diz que não iria
comentar o assunto, pois o processo se encontra sob sigilo.
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