E se o Profissional da
Contabilidade parasse?
* Por Luiz Fernando Nóbrega
Surreal! Esta foi a palavra que
encontrei para descrever a notícia sobre a greve dos Auditores da Receita
Federal do Brasil.
Ao menos, essa notícia me serviu para
refletir sobre o papel atual dos Profissionais da Contabilidade frente à
arrecadação tributária nacional.
Desde já, alerto ao caro leitor que
este artigo não versará sobre a legitimidade desta greve, mas apenas quanto aos
efeitos dela, até mesmo para inserir e relacionar o Profissional da
Contabilidade no contexto arrecadatório de tributos.
Segundo as informações passadas, os
impactos da paralisação já são sentidos ao não se lançar os créditos para a
Receita Federal. Já medidos impactos de 40% no número de fiscalizações em
comparação a 2011 e, ainda, se esperam 70% em relação a julho.
De acordo com o presidente do
Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do
Brasil), o reflexo da paralisação das atividades na arrecadação federal vai
aparecer no fim do ano.
Pois bem, caberia a nós,
Profissionais da Contabilidade, face à imensidão de dificuldades que enfrentamos
também entrar em greve? Afinal, caro leitor, teríamos motivo para tanto? Vejamos.
Nosso trabalho é o primeiro
responsável pelos recordes reiterados de arrecadação, sejam elas municipais
estaduais ou federais. Afinal de contas, as estatísticas
mostram que o pagamento voluntário ainda é muito superior ao montante arrecado
em decorrência de autos de infração.
Somos nós que apuramos os
tributos (quase todos eles, sujeitos ao lançamento por homologação, ou
“autolançamento”, que dispensam qualquer outra providência por parte do Fisco, de acordo
com a Súmula nº 436, do STJ), “pressionamos” (ou
educamos) o empresariado para efetuar o recolhimento e, ainda, ofertamos estas
informações ao Fisco quase que em tempo real, e isso tudo apesar dos curtos e
inúmeros prazos que temos para efetuar tais apurações.
Além do exíguo tempo e dos custos que
temos para nos adequar à complexa
legislação tributária, os sistemas nem sempre são ágeis para
processar as informações e, ainda, há uma
pesada áurea sobre nossos ombros chamada multa por descumprimento de obrigação
acessória. Essas multas, em alguns casos
(pitorescos!), chegam até a exceder o valor dos próprios tributos devidos, ou
seja, a obrigação acessória fica maior do que a obrigação principal!
Observem que estamos na
linha de frente desde o início do processo arrecadatório: quando determinado imposto ou contribuição é criado, nós é que o
interpretamos, operacionalizamos, apuramos, geramos o documento de arrecadação
e subsidiamos o Fisco com informações e declarações salutares.
Sem desmerecer o papel do fiscal,
cuja atividade foi elevada pela Constituição Federal (artigo 37, XXII) como
sendo “essencial ao funcionamento do Estado”, quando ele fiscaliza um
determinado tributo que por nós, Profissionais da Contabilidade, já fora
dissecado, e os estudiosos já tiverem pacificado os entendimentos do assunto, o
fiscal já terá todas as fases preliminares da fiscalização superadas e
facilitadas, especialmente no que diz respeito aos fatos e aos valores
envolvidos, justamente a parte mais crítica da constituição do crédito
tributário.
O que queremos alertar com
toda essa dissertação é sobre a maciça e importantíssima contribuição que os
Profissionais da Contabilidade estão ofertando à sociedade e ao País. Nós
também exercemos uma função “essencial ao funcionamento do Estado”, parafraseando o mencionado dispositivo
constitucional, e com mais intensidade e eficiência práticas e numéricas do que
os próprios fiscais.
O direcionamento dos
recursos que movimentam o Brasil é fruto do nosso trabalho e intelecto! Somos
nós que fomentamos nossos clientes com informações úteis para a tomada de
decisões que alavancam seus negócios, geram riqueza, emprego e renda. É do
nosso suor que saem soluções para que as empresas se planejem e sofram, dentro
da legalidade, menores impactos tributários.
E vejam que, mesmo com essa
folha corrida de serviços prestados, somos acachapados diuturnamente com mais e
mais obrigações acessórias vindas não dos nossos clientes, que pagam os nossos
honorários, mas sim dos governos e órgãos reguladores. Vivemos um paradoxo dificílimo de
equacionar: trabalhamos cada vez menos para aquele que nos remunera (cliente) e cada vez mais para quem nos impõe, impiedosamente,
obrigações diárias, sem nos pagar nenhum centavo.
É óbvio que não temos nenhuma
intenção de arregimentar a classe contábil a se insurgir em um movimento
grevista, mas queremos ser reconhecidos por aqueles que subsistem por causa da
nossa força de trabalho e, quiçá, até que nos remunerem ou financiem, a exemplo
do que fazem com instituições financeiras quando estas são intermediárias no
processo financeiro de arrecadação tributária. Isso, em nenhum momento, seria
um absurdo.
Trabalhamos pela valorização e
reconhecimento de um profissional indispensável ao crescimento e
desenvolvimento das nações, o Profissional da Contabilidade, que realiza uma
atividade essencial ao funcionamento do Estado!
*Luiz Fernando Nóbrega é o presidente
do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo. Empresário
contábil desde 1996, ele é também professor universitário, pós-graduado em
Controladoria e Finanças e Administração de Marketing e Recursos Humanos.
Jorge, bom dia, claro que úma utopia falarmos em greve, mas quem sabe num futuro bem proximo não possamos pensar nisso e se isso acentecer quem será prejudicado??? o governo ou o contribuinte, claro que seria o contribuinte e por consequencia nos contadores, mas que é pra se pensar no assunto não tenho dúvida.
ResponderExcluirabraços
valdir binoto