Entidades pedem novo Refis para salvar pequenas empresas com dívida
Fenacon enviou o pedido no início de outubro
A ampliação do
parcelamento no Simples Nacional sancionada ontem por Michel Temer pode ser insuficiente
para as companhias devedoras. Essas, por sua vez, tendem a sair do regime e
falir.
São Paulo - As entidades atuantes
entre as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) pediram um novo Refis ao governo
federal, cujo objetivo seria excluir multas e juros para diminuir as dívidas. A
consideração feita é que a ampliação do parcelamento, recém-aprovada, é
insuficiente.
De acordo com Valdir Pietrobon,
diretor político parlamentar da Federação Nacional das Empresas de
Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento (Fenacon), a entidade
enviou o pedido no início de outubro para a Secretaria de Relações
Institucionais da Presidência, mas ainda não obteve resposta.
"A ideia é fazer isso
paralelamente, incentivando as empresas a aderirem ao parcelamento e, no caso
de um novo Refis, mudarem de estratégia. As MPEs precisam desse desconto para
terem uma queda real no quanto devem. É preciso um fôlego, e só o parcelamento
não vai resolver", identifica o diretor.
Ontem, o presidente Michel Temer
sancionou o Projeto de Lei Complementar (PLC) "Crescer sem Medo", no
qual alonga o parcelamento de débitos de 60 para 120 meses. As regras entrarão
em vigor após regulamentação do Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN),
ligado à Receita.
Contudo, segundo dados da Receita
Federal, 584.677 foram notificadas pelo fisco por dívidas em atraso. O número
corresponde a cerca de 15% do total de optantes pelo Simples, e o total
arrecadado pelo órgão federal alcançaria R$ 21,3 bilhões caso todas as
empresas quitassem suas dívidas. O prazo, porém, venceu na última quarta-feira,
30 dias após emissão do Ato Declaratório Executivo (ADE).
Para Pietrobon, grande parte das MPEs
que não conseguiram quitar seus débitos no último mês, "provavelmente não
o farão agora, mesmo com a ampliação do parcelamento".
Ele ainda ressalta que, mesmo com a
sanção, a exclusão do programa como consequência, sem a aderência de um novo
Refis, "aumentaria em um milhão" o número de desempregados no País a
partir de janeiro de 2017.
"Muitas empresas poderão aderir
ao parcelamento, mas não terão caixa para suportar. Para elas, a tendência é
sair do Simples", afirma Pietrobon, destacando que vários negócios ainda
tentarão manter sua atuação, mas "outras simplesmente não terão o
suficiente para ficarem abertas".
"Se não está conseguindo pagar
imposto nem no regime tributário simplificado, imagina fora dele. O resultado é
demissões", complementa.
"A Receita permanecerá invicta a
depender da força de arrecadação, mas o índice de emprego depende desses
negócios, que retém a maioria dos empregos do mercado", reforçou Marcelo
Seemann, membro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
As demais regras atualizadas pelo PLC
também correspondem à elevação do valor de faturamento anual para inclusão no
programa. Os limites foram de R$ 360 mil para R$ 900 mil no caso de
microempresas; de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões para pequenas empresas e
de R$ 60 mil para R$ 81 mil no caso de Microempreendedor Individual (MEI).
Além disso, o projeto sanciona a
regulamentação dos investidores-anjo e a possibilidade de aderência ao Simples
por parte do setor de bebidas. Essas demais alterações estão previstas apenas
para 2018.
"O governo está no plano de
recuperar o que foi perdido nesses últimos anos, e apresentar essas mudanças
são boas formas de aquecer a economia", avalia Aluízio Monteiro, professor
e coordenador do curso de ciências contábeis do Mackenzie do Rio de Janeiro.
Limbo
De acordo com Seemann, porém, no que
diz respeito às MPEs já notificadas em setembro e que ainda não regularizaram
sua situação, a esperança é de que o governo solte nova instrução normativa e
reveja a situação dessas companhias.
"Duas questões precisam ser
sanadas. A primeira, possibilitar a aderência dessas empresas ao parcelamento
maior. A segunda, aprovar a união de todas as dívidas até a promulgação da lei,
para serem parceladas de uma vez", comenta.
Para ele, isso será necessário para
evitar a saída de "muitas empresas" que atualmente aderem ao Simples
Nacional.
"A regulamentação, esperada para
daqui 90 dias, é a cereja do bolo. Só com ela esses negócios sairão do limbo e
terão a segurança para continuar no programa", completa.
Execução Segundo Adriano Gomes, sócio-diretor
da Methóde Consultoria, no entanto, a probabilidade de a Receita promulgar
novas normas para as devedoras, e ainda em situação irregular, "é muito
baixa".
"A regra é de exclusão e, apesar
da avalanche de empresas excluídas como consequência, é improvável que a
Receita vá baixar a guarda e adiar a execução da lei", explica, e ressalta
que isso daria um "cenário de folga" para quem não paga.
"É complexo de se resolver. A
não ser por pressão política, é difícil o fisco ceder a uma nova
renegociação", avalia.
Fonte: Fenacon
Nenhum comentário:
Postar um comentário