Boa auditoria não tem preço
Empresas brasileiras ainda contratam mal um serviço altamente
estratégico.
Marco Antonio Papini
A contratação dos profissionais responsáveis por analisar e aprovar os
balanços contábeis é algo complexo e, por isso mesmo, mereceria ser feita de
forma mais cautelosa. No entanto, o que ainda se vê é uma parcela considerável
dos empresários entregando este importante serviço a quem, muitas vezes, só tem
como atrativo considerável o baixo valor dos honorários que cobra.
O quadro é preocupante e se agrava com a falta de pessoal suficiente nos
Conselhos Regionais de Contabilidade para exercer a devida fiscalização, o que
pode gerar situações surreais nesta área. Por exemplo, a possibilidade da
existência de contadores sem formação especializada em auditoria endossando
balanços produzidos por eles próprios, criando uma situação de conflito de
interesses latente, que pode ser resumida como: ‘quem faz não possui
independência para revisar o que produziu.
Ao quebrar essa máxima, pratica-se um desvio de conduta mais comum do
que se possa imaginar em nosso país, tornando com isto moralmente questionável
até mesmo trabalhos bem realizados, porém, com a soberania do auditor afetada
de forma irremediável.
Geralmente esses profissionais cobram um preço bem abaixo da praxe do
setor, algo digno de estranheza imediata, tendo-se em vista que auditoria
demanda muito tempo e mão de obra capacitada, não havendo milagres a serem
feitos para minimizar custos assim.
As empresas de auditoria com registro na Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) possuem diversos custos adicionais, que, em tese, elevam o padrão dos
trabalhos, com a obrigatoriedade que seus profissionais façam um programa de
educação continuada de ao menos 40 horas por ano, a ‘revisão pelos pares’,
processo de certificação do controle de qualidade, através da contratação de
outra firma de auditoria, em geral a cada quatro anos.
Outro caso palpável das consequências trazidas pela auditoria realizada
sem as devidas qualidade e isenção é o da empresa de capital fechado com
seguidos balanços apontando lucro, até o momento em que seu passivo trabalhista
supera o patrimônio líquido, e torna inevitável a sua quebra.
Não se trata de fazer aqui uma calorosa apologia à reserva de mercado, é
bom frisar. Mas sim informar ao empresário o grande potencial de armadilha
escondido sob o ato falho de contratar auditoria de forma irrefletida, para
dizer o mínimo. Quando essa postura prevalece o que se tem frequentemente é uma
admirável coleção de demonstrativos impecáveis, mas apenas de fachada.
O registro da auditoria na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), assim
como o dos seus profissionais no Cadastro Nacional de Auditores Independentes
(CNAI), administrado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), é ponto
igualmente fundamental a observar.
Criado pela Resolução CFC nº 1.019, de 18/02/2005, o CNAI pode ser
obtido pelos contadores desde que se submetam à aprovação no Exame de
Qualificação Técnica, promovido pelo CFC, com o apoio do Instituto dos
Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).
É também necessário que o auditor passe constantemente por cursos de
atualização e treinamentos para somar ao menos 40 pontos por ano em seu
currículo, um dos aspectos que tornam difícil contratar um ‘barato’ que, mais
cedo ou mais tarde, não se revele extremamente caro.
Como se vê, o trabalho de auditor é extremamente complexo, demanda
centenas de horas e sempre requer a interação com outros profissionais, para
que se discutam as informações geradas durante a análise dos números de uma
empresa.
Decerto, a maioria das companhias brasileiras está contratando mal nesta
área, priorizando pagar valores abaixo dos minimamente razoáveis, porém
gastando bem mais no final, face às consequências desastrosas que estar mal
atendido num segmento tão delicado pode trazer.
Para o empresário que não sabe o caminho a tomar em meio a um cenário
tão conturbado e preocupante, três dicas importantes e sempre válidas, é bom
observar.
A primeira delas é a busca de uma auditoria de porte compatível ao da
própria empresa. Em geral, há mais atenção no atendimento e uma maior
proximidade entre contratada e contratante numa relação onde haja empatia, o
que também só tende a ajudar na eventual cobrança de melhores resultados.
Prefira ainda auditorias com profissionais registrados na CVM e no CNAI,
pois isto garante que ao menos contará com gente capacitada pela frente.
Finalmente, vincule uma parte do pagamento à entrega final do relatório
da auditoria, evitando assim perdas e transtornos causados por atrasos ou
quebras de contrato.
Cuidados como estes ajudam a elevar a qualidade do segmento, além de
atenuar a possibilidade de problemas graves na análise dos balanços contábeis.
Afinal, todo cuidado é pouco na prevenção de multas e desperdício de recursos.
Enquanto não temos aqui a regulamentação da profissão de auditor, a
solução é manter sempre a guarda alta para evitar distorções num segmento que
tem sido pródigo na transformação em cinzas de projetos corporativos que tinham
tudo para dar certo.
Não faltava quase nada neles, apenas uma boa auditoria na maior parte
dos casos, pois bem atendidas neste campo, sua gestão certamente também seria
bem melhor.
Fonte: Revista
Incorporativa
CNT-Contadores
As matérias aqui apresentadas são
retiradas da fonte acima citada, cabendo à ela o crédito pela mesma.
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