A LÓGICA DO ATIVO E DO PASSIVO
Prof. Dr. Antônio Lopes
de Sá
De forma intuitiva
muitos foram os conhecimentos egressos da mente humana que só muito tempo
depois se transformaram em explicações sobre os seus fundamentos racionais.
Empiricamente grandes verdades foram dessa forma percebidas e somente
milênios depois racionalmente encontraram um desenvolvimento capaz de ampliar o
entendimento sobre a realidade.
Assim ocorreram com as concepções do átomo, da energia mental, de tantas
coisas outras e, também, com a fórmula genial da partida dobrada relativamente
à informação contábil.
Percepções apenas formais pouco tempo depois encontraram esclarecimentos
competentes para tangerem a essência das coisas.
O débito e o crédito no registro dos fatos decorreram inicialmente da
concepção de “meu” e “seu”, atribuível a relações de natureza pessoal.
Há cerca de 6.000 anos, na Suméria, segundo provas arqueológicas, a
escrita contábil desenvolveu-se na base de tais princípios, mas, logo depois já
se ampliava ao campo das “coisas materiais”, ou seja, não só evidenciando o
relativo a pessoas, mas, a riquezas.
Um dos maiores estudiosos da História da Contabilidade, o professor
Federigo Melis, na década de 40 do século passado já tinha convicções sobre o
nascimento da Partida Dobrada naqueles referidos procedimentos sumerianos,
considerada a escrita “tabular” que foi evidenciada em peças de argila.
Se ninguém ainda constatou efetivamente o autor do critério de registros
em débitos e créditos, por outro lado não há dúvida que nasceu da necessidade
de informação sobre a movimentação da riqueza dos empreendimentos.
Um povo que teve capacidade de criar o sistema decimal, a escrita, os
números abstratos, o calendário e obteve outras conquistas do saber, sem
dúvida, merece ter-lhe atribuída a invenção dos primeiros sistemas racionais
dos registros contábeis e da Partida Dobrada.
O conceito de “débito” e “crédito”, portanto, ligado inicialmente apenas
a questões de valores a receber e a pagar, por representarem fatos relativos à
vida do patrimônio, de “causas” e “efeitos” expressos em “medidas”, naturalmente
ampliou-se mais tarde a tudo o que diz respeito à riqueza (bens de uso e de
coméfcio, capitais próprios e de terceiros, despesas e receitas).
Tal progresso foi o que deu origem ao regime de registros, este
posteriormente denominado “partida dobrada”.
Milhares de anos depois, conseqüência de aperfeiçoamentos constantes,
quando a Contabilidade já se enquadrava dentro das convenções da ciência, Leo
Gomberg, um russo naturalizado suíço, no século XIX, definiu a questão;
ostensivamente fez ver que logicamente o “crédito” era uma expressão de “causa”
ou “origem” dos fatos patrimoniais e o “débito” o “efeito”.
Na época intensamente se buscava explicar e entender a “essência” dessa
bipartição de valores na demonstração do Balanço Patrimonial.
Assim, Rodrigo Affonso Pequito, em obra, editada em Lisboa em 1875
lecionava que: “as palavras activo e passivo só, por si, não têm significação
favorável ou desfavorável; indicam, simplesmente, os fatos sucedidos.” (pags.
160 e 161); “Um comerciante pode ter um grande activo e estar em má posição e
pode ter um grande passivo e estar em boa posição”.
Concluiu afirmando que: “A diferença entre activo e passivo é que mostra
a boa ou má situação”.
No século XX, grandes doutrinadores como Vincenzo Masi, no século XX
afirmaram ser o Ativo a evidência de um “efeito” ou “investimento”, e, por isto
tem contas devedoras e o Passivo a demonstração de uma “causa” ou
“financiamento” e por tal razão possui contas credoras.
O “recurso” que um empreendimento obtém para constitui-se e desenvolver
é, portanto, a “causa” da qual o patrimônio se deriva, ou seja, o Ativo é
apenas um efeito e o Passivo é a evidência da origem, ou seja, a que
“financiou” a existência da riqueza.
As ciências possuem apoio em rigorosa lógica e a Contabilidade não
poderia discrepar de tal convenção.
Tal realidade, no caso, busca evidenciar uma só coisa que é a riqueza
apresentando a origem ou causa no Passivo e o efeito ou aplicação no Ativo.
Não se trata de duas coisas, mas, de duas dimensões sob as quais se apresenta
uma só coisa.
Ativo e Passivo são dois aspectos de uma só situação patrimonial, ou
seja, a evidência de um sistema em causa e efeito.
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