Receita embute
'maldade' em MP e reduz o efeito da desoneração
MÁRCIO
FALCÃO
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
Na mesma
medida provisória em que ampliou o número de setores beneficiados pela
desoneração da folha de pagamento, o governo incluiu uma mudança que pode
acabar fazendo as mesmas empresas pagarem tributo maior que o esperado.
Pelo acordo,
as empresas vão deixar de pagar contribuição previdenciária sobre a folha de
pagamentos em troca de uma alíquota cobrada sobre o faturamento.
A medida tem
como objetivo reduzir custos das empresas, tornando-as mais competitivas com
concorrentes estrangeiros.
Como retira encargos da
folha de pagamento, também estimula a contratação de trabalhadores formais.
O problema é
que o texto sofreu uma modificação que aumentou a base de cálculo sobre a qual
será cobrado esse percentual, o que aumenta o gasto com o tributo.
Um dirigente
de entidade empresarial disse à Folha que a mudança não "anula" o
efeito benéfico da desoneração da folha, mas "reduz seu efeito positivo,
em alguns casos significativamente".
Segundo ele, que preferiu
não se identificar, uma "bondade" da Receita Federal sempre costuma
vir acompanhada de uma "maldade".
A mudança
está prevista em uma das medidas provisórias do Plano Brasil Maior, aprovada no
mês passado pelo Congresso, que será sancionada pela presidente na próxima
segunda-feira.
O texto final ampliou a
definição de faturamento, permitindo a inclusão de receitas que não seriam
computadas anteriormente.
Entre elas,
segundo as entidades empresariais, estão receitas financeiras, de aluguéis e de alienação de
bens móveis e imóveis, podendo atingir até a venda de ações.
A novidade,
que surpreendeu o empresariado, levou entidades a enviar carta à presidente
Dilma Rousseff pedindo seu veto.
Em seu
texto, a Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) reclama da mudança e diz que,
"assim, a medida provisória alterou substancialmente o conceito de receita
bruta, [...] aumentando a já tão pesada carga tributária e
contrariando e desvirtuando o objetivo fundamental do Plano Brasil Maior".
REVISÃO
O Ministério da Fazenda
disse à Folha que não houve intenção de aumentar a arrecadação e que o objetivo era deixar mais
claro o conceito
de receita bruta. Técnicos admitem que o conceito pode ter ficado ambíguo.
Segundo a
Fazenda, o governo está aberto a discutir com o empresariado a medida e sua
abrangência, deixando aberta a possibilidade para modificá-la.
Há até
chance de veto ou alteração em uma nova medida provisória.
O texto original do governo
não alterava o conceito de receita bruta.
A mudança ocorreu
durante a tramitação da MP, com a inclusão de uma emenda, a partir de
negociações de técnicos da Receita.
Até agora,
40 setores foram desonerados. Eles representam 13% do emprego formal do país,
16% da massa salarial do setor formal e 59% das exportações de manufaturas.
O governo
disse que pretende estender o benefício, por meio do qual as empresas deixam de
recolher 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento e passam
a pagar entre 1% e 2% sobre seu faturamento.
Governo
recua e vai vetar mudança de cálculo em MP da desoneração
Diante da
reação de empresários, a presidente Dilma Rousseff decidiu acatar pedido da
indústria e vetar artigo da medida provisória (MP) da desoneração da folha de
pagamento que abria espaço para que os setores beneficiados pagassem um tributo
maior do que o esperado.
O veto
excluirá da MP a "maldade" introduzida pelo Congresso por uma emenda
ao texto feita após uma negociação com técnicos das Receita.
A MP estabelece que 25
setores deixarão de pagar a contribuição patronal à Previdência que incide sobre a
folha de pagamento em troca de uma alíquota sobre o faturamento.
O objetivo é
desonerar as empresas e retirar um desincentivo à contratação.
Como a Folha
revelou ontem, ao votar a MP, o Congresso alterou a definição de faturamento, ampliando as
receitas que devem ser levadas em conta na base de cálculo para incluir, por
exemplo, ganhos com aplicações financeiras.
Isso
tornaria a tributação maior do que a esperada -- o impacto seria diferente de
empresa para empresa, dependendo do perfil de receitas.
Surpreendida
pela mudança, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
encaminhou carta à presidente afirmando que ela estava "aumentando a já
tão pesada carga tributária" do país.
O Ministério
da Fazenda afirmou que a alteração não teve como objetivo aumentar a
arrecadação, mas, sim, tornar mais claro o conceito de receita bruta.
A Folha
apurou que o projeto de conversão da MP em lei será sancionado amanhã pela
presidente, com o veto.
Fonte: Folha
de S.Paulo e Fenacon
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