Simplificação do
PIS-Cofins deve sair até meados do ano que vem
A proposta de reforma do PIS-Cofins está praticamente pronta
e vai contemplar mudanças essenciais: tudo que a empresa comprar vai gerar
crédito e as companhias que hoje optam pelo lucro presumido e pagam uma alíquota de 3,65% sobre o faturamento, terão de
migrar para a alíquota de 9,25% sobre valor adicionado. O governo
vai definir um tempo de transição para essa migração.
A cargo do secretário-executivo do Ministério da Fazenda,
Nelson Barbosa, a proposta de reformulação e simplificação do PIS-Cofins foi
incluída recentemente no leque de medidas para reduzir o custo de produção e
incentivar o investimento no país. A previsão é de que a medida possa ser
implementada em meados do ano que vem.
O PIS e a
Cofins são os impostos mais complexos do já intrincado sistema tributário brasileiro, responsáveis
por 90% das demandas tanto legislativas quanto judiciais. "Chegou a um
ponto em que a simplificação é boa para o setor privado e também para a Receita
Federal", afirmou Barbosa.
Na concepção do PIS-Cofins, só os insumos diretamente
utilizados na produção geram crédito. Não há, porém, clareza sobre esse
conceito. Os insumos eleitos como geradores de crédito acabam sendo objeto de
interpretação. As empresas têm que fazer a declaração com todas as compras que
forem efetuadas e o que avalia que gerou crédito. Essa declaração é encaminhada
à Receita Federal, que vai reavaliar o pedido, num processo de imensa
burocracia para as empresas, elevados custos para o Fisco e uma farta lista de
disputas na Justiça.
"Na
proposta, estamos seguindo a mesma lógica do ICMS e do IPI. Tudo gera crédito e
vai na nota fiscal. Se a empresa
comprou um lápis e pagou 10 centavos de PIS-Cofins, ela terá o crédito dos 10
centavos automaticamente", explicou o secretário.
Há, porém, alguns complicadores. O primeiro é a limitação
fiscal. “Se tudo gera crédito, o governo estará dando mais crédito. No curto
prazo a empresa vai pagar menos impostos e a União vai ter perda de caixa. Com
a simplificação e o crescimento da economia, mais adiante o governo recupera
essa receita", acredita Barbosa.
Esse não é o único problema. Na última reforma desses
tributos um conjunto de empresas, responsáveis por 21% da arrecadação do
PIS-Cofins, optou pelo regime cumulativo. Elas declaram com base no lucro
presumido e pagam, atualmente, uma alíquota de 3,65%. Já 62% optaram pelo
regime não cumulativo e pagam uma alíquota de 9,25% sobre o valor adicionado.
Os setores restantes não terão alteração. São eles: o sistema
financeiro, que paga alíquota de 4,65% e responde por 7% da arrecadação, e os
que estão em regimes especiais, como os combustíveis e bebidas, que arcam com
10% da arrecadação.
Os 21% envolvem companhias de construção civil e pequenas e médias
empresas comerciais e prestadoras de serviços, com faturamento anual de até R$
48 milhões. Dessas, pelos cálculos do governo, 5% passariam a pagar mais
impostos quando da migração para o regime não cumulativo e alíquota de 9,25%.
"São poucos, mas, na política, são grupos organizados
com grande capacidade de voz", reconhece Barbosa, sem subestimar a
dificuldade que poderá ter pela frente. Para vencer a resistência dessas
empresas e do Congresso, que terá que aprovar a medida, ele informou que o governo
deverá negociar um prazo de transição para que a mudança seja feita.
"Tecnicamente está tudo pronto, mas politicamente não", disse.
Um outro aspecto terá que ser superado ao longo das
negociações dessa reforma para vencer a desconfiança que se criou por ocasião
da última mudança. Em 2003, sob a garantia de que as alterações que estavam
sendo feitas no PIS-Cofins seriam "neutras" para a carga tributária,
o Ministério da Fazenda patrocinou um espetacular aumento da receita. A
arrecadação da contribuição, que era de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em
2003, com as tais medidas, saltou para 4,1% do PIB em 2004. Atualmente o PIS
arrecada o equivalente a 1% do PIB e a Cofins, 3,8% do PIB.
Se for bem sucedido na empreitada, o governo espera ter essa
medida aprovada em meados do ano que vem. Cronograma semelhante está previsto
para as negociações e aprovação da unificação da alíquota do ICMS em 4%.
Claudia
Safatle
Fonte: Valor
Econômico
Associação
Paulista de Estudos Tributários, 18/9/2012
11:56:20
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