Empresas de fachada fraudam ICMS e
fisco descobre prejuízo de R$ 50 mi
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CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO
O fisco paulista identificou um
grupo de empresas de fachada e escritórios de contabilidade localizados
principalmente na zona sul da capital que montaram um esquema para revender
mercadorias sem o pagamento de ICMS.
A estimativa inicial é de que R$ 50
milhões foram sonegados dos cofres paulistas nos últimos três anos.
Para burlar a fiscalização, os
empresários agiam como atacadistas, intermediando a venda de produtos e
usando um regime de tributação em que o recolhimento do ICMS é centralizado
em um estabelecimento responsável em pagar o imposto por toda a cadeia
(substituição tributária).
Foram identificadas no esquema
investigado ao menos oito empresas de fachada, que funcionavam em pequenas
salinhas da periferia da capital paulista e tinham como sócios supostos
"laranjas" (pessoas que tem seu nome no quadro societário, mas não
têm posses para serem donas de qualquer negócio). Ao incluir esses laranjas,
o objetivo dos envolvidos é escapar de serem acusados de crime de sonegação
fiscal.
A fraude ocorria quando essas
empresas intermediárias traziam alimentos (como achocolatados, entre outras
mercadorias industrializadas), produtos de higiene, limpeza e bebidas
(uísque, cachaça e conhaques) de fornecedores de GO, ES, MG e RJ sem recolher
ICMS. Nas operações entre os estados, as alíquotas de ICMS variam de 7% a
12%, dependendo do produto.
Esses empresários paulistas, a sua
maior parte do ramo do comércio, informavam à Secretaria estadual da Fazenda
paulista que eram os responsáveis pelo recolhimento do imposto, o que na
prática não ocorria.
Para José Eduardo de Paula Saran,
diretor-adjunto da Administração Tributária da secretaria, só após a
fiscalização avaliar os documentos digitais e em papel apreendidos em 16
alvos da ação fiscal (entre empresas de fachada, escritórios de
contabilidade, pequenos comércios e atacadistas de médio porte) será possível
quantificar com precisão a quantia sonegada. "Deve ser bem maior. Os R$
50 milhões iniciais fazem parte de uma estimativa conservadora."
"Os Estados fazem convênio
entre eles para estabelecer, nas operações interestaduais, o responsável pelo
recolhimento do tributo. Quando há um convênio firmado, o estabelecimento que
manda a mercadoria para SP já recolhe o imposto no Estado de origem. Essa
organização, que já vinha sendo investigada há algum tempo, mapeou entretanto
os produtos e os Estados com os quais São Paulo não tem convênios", diz
Saran.
"Nesse caso, o fornecedor de
outro Estado não fica obrigado a recolher o ICMS para SP. O primeiro estabelecimento
paulista que adquirir a mercadoria fora de SP é que é a responsável em pagar
o ICMS, os demais compradores dele não tem obrigação de recolher o imposto.
Por isso, o grupo montou empresas no papel que traziam as mercadorias,
dizendo que iam pagar o imposto. Na verdade, revendiam para terceiros
comerciantes sem pagar", explica o diretor-adjunto.
O grupo trazia as mercadorias para
depósitos da capital ou já mandavam entregar diretamente para os comerciantes
que compravam os produtos, com preços reduzidos em no mínimo 7% a 12% mais
baixos do que a concorrência --isso porque o ICMS não era recolhido. A
investigação, em uma segunda etapa, vai apurar se os fornecedores e
compradores dos produtos fazem ou não parte do esquema de sonegação. "Temos
evidências que os preços estavam fora da prática do mercado, e isso chamou a
atenção", diz Saran.
Batizada de "Falsa
corrente", a operação contou com a participação de 45 fiscais, 20
policiais civis e promotores do Ministério Público do Estado.
Desde que o Estado de São Paulo
adotou a substituição tributária em 2007, 32 setores já fazem parte desse
regime de tributação.
O setor atacadista foi responsável
pelo recolhimento de R$ 16,3 bilhões em ICMS no ano passado. Os
supermercados. R$ 985 milhões.
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quinta-feira, 4 de outubro de 2012
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